terça-feira, 9 de junho de 2009

UNE, estranho silêncio

Texto do Jornal O Popular 28 de abril de 2009

Por Armando Acioli


Já foi o tempo em que a União Nacional dos Estudantes, através de suas aguerridas diretorias no âmbito federal e nas diversas unidades estaduais, promovia fortes movimentos em defesa das legítimas causas populares. Sua luta contra a violência e os descalabros de modo geral foi histórica. No decorrer dos governos militares pós-64, quando segmentos radicais do regime de exceção violaram direitos humanos, o estudantado saía às ruas para gritar e protestar contra os desmandos que ocorriam em todo o País.

Quando o então presidente Fernando Collor resvalou para os desvios com o esquema de corrupção montado por PC Farias, a UNE formou um verdadeiro exército e se mobilizou no País pelo impeachment de Collor. O movimento dos caras-pintadas ganhou intensa amplitude, terminando por induzir as diversas classes e instituições a apoiarem o pedido de impeachment de Collor no Congresso Nacional. Os caras-pintadas da União Nacional dos Estudantes se tornaram célebres na luta que resultou no afastamento do ex-governador de Alagoas do Palácio do Planalto.

Estranha e inexplicavelmente, a UNE, de lá para cá, mudou da água para o vinho. Não é mais a UNE de antigamente, que tinha na presidência o combativo goiano Aldo Arantes, que posteriormente exerceu o mandato de deputado federal pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Pela evidência dos fatos, a União Nacional dos Estudantes dorme agora o sono do comodismo, sobretudo a partir do governo Lula. Parece que a ex-combatente classe desapareceu do mapa. Hoje, não se fala mais na UNE, comprovando que a grande maioria de seus componentes fugiu à luta e sequer defende seus colegas que batalham por justas reivindicações. Não se tem notícia de qualquer arregimentação da UNE contra a escalada da corrupção em múltiplos setores públicos e privados, abrangendo inclusive os três poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário.

No caso específico da violência, há pouco, na capital goiana, como vem acontecendo em outros aglomerados urbanos, estudantes que se insurgiram contra o reajuste abusivo das tarifas de transporte coletivo, foram espancados por integrantes da Polícia Militar. Estudantes secundaristas e universitários, ao protestarem contra o dobro do aumento imposto pelos donos das empresas particulares que exploram o transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia, também defenderam os direitos da multidão usuária dos serviços.

As agressões de policiais militares despreparados foram arbitrárias e o comandante da Polícia Militar, coronel PM Carlos Antônio Elias, não pode permitir atos que ferem a integridade física do cidadão. Eles não são bandidos. A PM não está a serviço dos empresários do transporte de massa e muito menos pode atacar estudantes que, pacificamente, defendem legítimos pleitos. O prefeito Iris Rezende, que já foi político estudantil no Liceu de Goiânia e na então Faculdade de Direito da Rua 20, tem o dever de proibir as majorações escorchantes das tarifas dos coletivos. Também determinar a colocação de maior número de ônibus nas linhas e aprimorar o sistema de locomoção dos usuários na Região Metropolitana de Goiânia. E por que não implantar o metrô de superfície? Até porque se trata do principal meio de transporte de massa e o prefeito mantém parceria com o governo Lula. O citybus é elitista e nada resolve.

Quanto aos recentes e lamentáveis episódios de espancamentos de estudantes em Goiânia, a União Nacional dos Estudantes tem pecado por omissão e ignora os distúrbios nos vários Estados.

Por que a ex-guerreira União Nacional dos Estudantes se mantém calada e não defende seus companheiros vítimas de ações policiais arbitrárias? Enquanto outras instituições chegam a lutar e fazer lobbies por privilégios descabidos e aéticos, a UNE se acovarda e nada faz pela causa dos direitos da própria classe. Mais de 650 mil bacharéis em Direito País afora estão impedidos de exercer a profissão por um exame inconstitucional, absolutista e discriminatório da OAB, enquanto a UNE a tudo assiste passivamente.

Enfim, ao se acomodar no governo da sucessão de escândalos de corrupção, da violência e da insegurança, há um estranho silêncio da UNE.




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