quarta-feira, 24 de junho de 2009

Carta Aberta do DCE/UFG à Comunidade Universitária

Estamos em época de consulta para a Reitoria da nossa Universidade, e apesar de termos apenas uma chapa concorrendo, nós do DCE/UFG queremos trazer contribuições ao debate. Antes de tudo devemos relembrar que um de nossos eixos de atuação é a luta por mais democracia na universidade e que infelizmente os moldes desta eleição não são os que queremos. Quando dizemos que está ocorrendo uma consulta é porque independente de quantas chapas se candidatem à Reitoria, o resultado tem que ser aprovado pelo Presidente da República e pelo CONSUNI - Conselho Universitário, estância máxima de deliberação das universidades, onde a representação de estudantes e técnicos-administrativos não é paritária. Vale lembrar que já houveram universidades onde o Reitor foi empossado mesmo sendo o terceiro colocado na consulta.

A atual Reitoria, que é candidata à reeleição, traz entre seus aspectos mais positivos o diálogo, é fato que qualquer C.A. , projetos de extensão e movimentos sociais tiveram acesso aberto à Reitoria. Com o DCE não foi diferente. Compreendendo as limitações que o DCE tem por conta de sua dívida e as dos CA’s pelas poucas fontes de renda, vários eventos foram apoiados pela Reitoria e por suas Pró-Reitorias: Calourada Unificada UFG (2008 e 2009), Ciclo de Debates UFG 2009, V ENUDS (2007), dentre outros eventos acadêmicos. O apoio a Projetos de Extensão, a criação dos cursos de Pedagogia da Terra, Licenciatura Indígena,Direito para beneficiários da Reforma Agrária e a luta pela implementação da TVUFG também figuram entre os aspectos positivos dessa Reitoria. É fundamental garantir a democratização da UFG para atividades do movimento estudantil. Mesmo com todos os embates que tivemos sobre os rumos da expansão da universidade a Reitoria esteve pronta a atender nossas solicitações em nome dos estudantes desta universidade. Ainda assim não estamos apoiando a Chapa dos Professores Edward e Eriberto, por termos visões diferenciadas de projeto de Universidade e pelas questões abaixo elencadas.

Foi justamente questionando os rumos da expansão da UFG que o DCE travou uma batalha, -até judicial para algum diretores/as do DCE - com a Reitoria. Em 2007 a Reitoria desta universidade, após lançar projeto sobre expansão noturna, pôs em discussão a sua adesão ao REUNI. Nós fizemos oposição a este projeto ocupando por duas vezes o CONSUNI, escrevendo um contra-projeto, discutindo as particularidades do REUNI, demonstrando as inconsistências do projeto e finalmente derrubando a espinha central do projeto: os BGAs - Bacharelados em Grandes Áreas. Porém , a Reitoria que nos parecia muito aberta convocou o CONSUNI final para aprovar o REUNI na sede da Justiça Federal. Além de ser em um ambiente fora da universidade, cercearam a entrada de estudantes com a presença de policias federais e militares. Diante disto nós ocupamos o Centro de Seleção, sofremos um processo e pouca coisa da pauta de reivindicações assinada pelo Reitor foi cumprida. Sem nos abater continuamos a luta contra este projeto, suas metas quantitativas, e por uma expansão de qualidade voltada para a comunidade.

Outro embate foi em relação ao UFG Exclui, a primeira versão do programa de “inclusão” da UFG. Em sua primeira versão ele não tinha nenhum tipo de reserva de vaga, era de apenas um ano, dentre outros problemas que em parte foram solucionados em sua versão final, entrando em uso no ano passado na UFG. Mais uma vez tivemos dificuldades em discutir o projeto, muito menos que no REUNI é verdade, e dessa vez mais considerações foram aceitas. Em outros pontos importantíssimos para os rumos de nossa universidade não foi só o DCE/UFG ou o movimento estudantil que foi deixado de fora do debate, ousamos dizer que foi a comunidade como um todo. Um exemplo claro foi sobre a política de segurança da UFG, traduzindo, o uso de crachás e contratação de empresa privada para implementação do sistema. Chegamos a nossas unidades e simplesmente vimos o aviso para que tirássemos fotos e nada mais nos foi explicado. A renovação do contrato com a REAL FOOD e o aumento do RU, se reflete também como um processo fechado, pois não houve discussão com os demais segmentos da comunidade universitária.

É magnífico que a UFG esteja sendo ampliada e em parte reformada, mas antes de qualquer coisa é preciso que se esclareça que as obras feitas como as passarelas, o Centro de Eventos e outras ainda não são verbas advindas do REUNI. Para nós o dinheiro público gasto com obras deve ser para espaços públicos. Entendemos que a prioridade da UFG deveria ser a reforma do RU e não a construção de novas lanchonetes. Não queremos dinheiro público investido em obras a serem exploradas pela iniciativa privada dentro de um espaço público federal.


Fazemos aqui um chamado à Chapa Edward - Eriberto para que se posicionem ao lado do movimento estudantil na luta pela aplicação de 10% do PIB para educação, contra as medidas privatistas do Governo Federal, como a lei das fundações estatais de direito privado, PROUNI, leis que limitam o gasto com servidores públicos e que excluem funções de segurança, transporte e alimentação do quadro das universidades e as parcerias público-privado que fazem da universidade pública um centro de apoio às necessidades de mercado. Entendemos que setor produtivo são os trabalhadores e não empresários , e portanto a UFG deve priorizar medidas que facilitem o desenvolvimento social e não somente o crescimento econômico.

Esta é a nossa pauta mínima para a próxima Reitoria da UFG:


· Aumento do valor e número de bolsas;
· Discussão do caráter da “bolsa trabalho” (permanência), pelo fim da substituição de funcionários por bolsistas;
· Contra a renovação do contrato com a Real Food e pela reestatização do Restaurante Universitário;
· Comprometimento com a contratação de professores em regime de DE – Dedicação Exclusiva;
· Abertura da biblioteca aos domingos;
· Abertura do Campus para eventos culturais no período noturno e fins de semana
· Reforma dos espaços físicos dos CAs e construção de espaço físico para os novos CA’s;
· Paridade nos órgãos colegiados e nas eleições dos cargos administrativos;
· Pelo cumprimento da Lei de Estágios no Hospital das Clínicas;
· Realização de Assembléias Universitárias para nortear as decisões mais importantes da UFG;
· Pela retirada dos processos contra os estudantes que ocuparam o Centro de Seleção em 2007;
· Manutenção das copiadoras sob controle dos CAs;
· Postura clara contra a presença da PM no Campus;



Diretório Central dos Estudantes da UFG
Gestão MobilizAção
2008/2009
“Por uma expansão de qualidade voltada para a comunidade”

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Posse da nova diretoria da ADUFG

O DCE-UFG participou, no último dia 17 de junho na sede da Associação Médica, da posse da nova diretoria da Associação dos Docentes da UFG- ADUFG e reafirmou a necessidade de se unificar a luta dos trabalhadores e estudantes contra as reformas educacionais do Governo Lula, como a lei que tenta transformar os Hospitais das Clínicas em Fundações de Direito Privado, a lei de cerceamento de greve e as medidas que limitam os gastos com servidores públicos.

Segundo um dos Coordenadores do DCE, o estudante de História Paulo Winícius,24, " Só a unidade entre o DCE, ADUFG, ANDES e SINT-UFG, nos fará fortes o bastante pra barrar medidas privatizantes dentro da UFG, como ocorre com o Restaurante Universitário".


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Em defesa da liberdade e do progresso do conhecimento na Internet Brasileira

O DCE junto ao Centro Acadêmico de Computação promoveu no dia 10 de Junho um debate pelo Ciclo de Debates realizado na UFG com o título "Em defesa da liberdade e do progresso do conhecimento na Internet Brasileira". O debate foi realizado no auditório do Instituto de Informática e contou com a presença do Prof. Dr. Pedro Antônio Dourado de Rezende atual professor da UNB, Prof. Dr. Hugo Alexandre Dantas do Nascimento atual diretor do CERCOMP da UFG e do vice-coordenador da Associação Goiânia de Software Livre Júnior José dos Santo e foi patrocinado pelo empresa de T.I. Porta 22.

Primeiro foi apresentado o conceito e a importância do Software Livre dentro da sociedade brasileira. Software Livre diz respeito a liberdade de executar, estudar, redistribuir e modificar o software para qualquer fim e por qualquer pessoa. Muitas pessoas não entendem o conceito dessa maneira e simplesmente o confundem com software gratuito.

Depois foi apresentado e discutido o projeto de Lei "Azeredo", também conhecido com o AI-5 Digital, que quer transformar os provedores de acesso em uma espécie de polícia privada. O projeto coloca em risco a privacidade dos internautas e, se aprovado, elevará o já elevado custo de comunicação no Brasil. O Prof. Dr. Hugo Alexandre leu parte do projeto e discutiu o elevado custo que se teria para implantá-lo em apenas uma universidade. O valor ultrapassaria a casa de 1 milhão de reais o que segundo ele torna-se inviável para um país como o Brasil. O Prof. Dr. Pedro Rezende explicou que este projeto é a forma que as grandes corporações de áudio e de cinema, juntamente a polícia mundial, encontraram para barrar o acesso à internet, recuperando o antigo monopólio que existia a pouco tempo atrás.

Ao final do debate foram discutidos outros temas como: a importância TV Digital, modelos de negócio utilizando software livre e processo de migração para o software livre.



Resumo do debate que ocorreu no dia 10 de junho no auditório do INF durante o Ciclo de Debates enviado por Marcelo Giesel, presidente do CA de Ciências da Computação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Criação do curso de Educação Física à distância

Parecer do conselheiro (CONSUNI) Paulo Winícios contrário à criação do curso de Educação Física à distância:


Apresento parecer contrário à criação do curso de Educação Física à distância por entender que tal modalidade é contrária aos acúmulos do movimento docente e estudantil no que diz respeito à educação enquanto prática crítica e emancipadora. Tais posições estão claras nas resoluções dos recentes congressos da Associação Nacional dos Docentes – ANDES , da União Nacional dos Estudantes – UNE e da Frente Nacional de Luta Contra a Reforma Universitária .

Sem precisar ir tão longe encontro argumentações contrárias a tal modalidade de ensino nas palavras das atual coordenadora da TV UFG, professora Rosana Borges que em publicação da Faculdade de Educação da UFG aponta que o ensino à distância é utilizado para “ preencher a demanda da educação pós-secundária da população adulta, incluindo o ensino superior e toda a formação contínua gerada pelas necessidades do mercado de trabalho … acompanhando as mudanças ocasionadas pela reestruturação produtiva em curso no país...”. Seguindo o raciocínio da professora mestra em educação pela UFG, que deduz de tal modalidade a visão de educação enquanto “ formação de recursos humanos para o mercado “ , encontramos na página 2 do “ Projeto Político-Pedagógico do curso de licenciatura em Educação Física na modalidade de ensino à distância “, no quarto parágrafo da justificativa , uma acentuada defesa do projeto tendo em vista a expansão do ensino médio e a carência de professores para tal quadro , portanto o curso de Educação Física à distância se apresenta como uma solução rápida e barata para suprir o déficit educacional da área.

Agora peço licença aos conselheiros para perguntar, onde fica o caráter social e comunitário da educação? Em qual educação a UFG pretende investir? Onde não haja participação do estudante junto ao grupo? Onde seja solução, o menor investimento em técnicos-administrativos e docentes?

Segundo Maria Luiza Belloni, Educação à Distância se configura como “ um conjunto fragmentado de segmentos específicos de um mercado global de aprendentes-consumidores” o que é corroborado pela professora da UFG, Rosana Borges, que afirma que educação à distância é “ uma modalidade de ensino baseada no controle por regras técnicas em detrimento das normas sociais, com pouco ou nenhum conhecimento das necessidades dos estudantes, guiando-se por orientações diretivas que visam a atingir os objetivos vislumbrados pela eficiência, relegando a segundo plano a interação pessoal “Percebemos no projeto a ênfase na utilização de novas tecnologias, porém apontamos como erro equiparar a ação humana sobre a máquina com a ação recíproca entre sujeitos. Estamos falando de uma aprendizagem fundamentalmente autônoma, que depende da motivação do estudante, motivação esta, difícil de ocorrer quando o mesmo está isolado de outros estudantes, professores e da instituição de ensino pertencente.

A questão que está em jogo é: pensamos o estudante enquanto sujeito passível de produzir conhecimento ou como um mero receptor de conteúdos? Como nos disse Paulo freire “ Ninguém se conscientiza separadamente dos demais”, é claro e evidente que o convívio social é necessário à construção do conhecimento. Enfrentamos aqui o dilema entre formar ou capacitar. Do ponto de vista dos docentes , novamente segundo a professora Rosana há uma “ desqualificação do saber profissional dos educadores e a desvalorização do seu fazer, já que às exigências decorrentes das propostas de mudança, não corresponde retribuição salarial, formativa e trabalhista adequada...” As relações do mundo do trabalho na sociedade capitalista, vem demonstrando que as novas tecnologias avançam tão rapidamente quanto as desigualdades e a exploração por todo mundo.

Portanto finalizo o parecer acompanhando a posição da atual gestão do Centro Acadêmico de Educação Física, contrário à criação do “ curso de licenciatura em Educação Física na modalidade de ensino à distância “, por conceber que a ênfase nas novas tecnologias não substituem a importância do trabalho docente, nem tão pouco as relações : professor-estudante, estudante-estudante e professor-estudante-comunidade.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Universidade e a Cultura Popular - Conexões Possíveis e Necessárias

Por Gyannini Jácomo


I – Identificação

Para a UNESCO na sua 25ª Reunião, em Paris, no dia 15 de novembro de 1989, foi assim definida a cultura tradicional e popular:

A cultura tradicional e popular é o conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural fundadas na tradição, expressas por um grupo ou por indivíduos e que reconhecidamente respondem às expectativas da comunidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social; as normas e os valores se transmitem oralmente, por imitação ou de outras maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato, a arquitetura e outras artes.


É um tema extremamente conturbado este, a cultura popular, pois, para alguns, este tema remete, imediatamente, à idéia de duas culturas. Uma popular e outra elitista.

O processo de formação da burguesia introduziu um dado novo – apresentar de forma escrita as histórias populares, ou seja, aquelas oralmente transmitidas. Até então, o “povo”, não sabia escrever e ler porque era facultado somente aos monarcas e seus correligionários a condição de escrita, mas com a constituição desta nova classe social (burguesia) que por sua natureza e necessidade política “democratiza” a escrita, para buscar junto ao povo a ascensão de poder. A burguesia moderna privatiza o eu, inaugura a propriedade privada, encontra sentido na mercadoria. Agora as “coisas” não são mais do Rei, somente, agora são dos pequenos comerciantes (traficantes de escravos e toda sorte de novos comerciantes). Nesta privatização, privatizou-se também com o tempo e a sofisticação do pensamento capitalista os sentidos, as obras coletivas, privatizaram antes de tudo o próprio homem. Criou-se um novo tipo de escravo. O escravo moderno não é dono de si, é reprodução, é desapropriado de sua capacidade criativa e transformado em máquinas sofisticadas e bem aparelhadas para produzirem mais. O telefone celular é tudo, inclusive celular. É neste cenário que nos encontramos e somos forçados a pensar sobre a tradição da cultura e a própria cultura popular. E é exatamente disto que se trata esta exposição.

Aqui tenho a intenção clara de defender um eixo ideológico: qual o tipo de Universidade devemos construir e qual o parâmetro conceitual esta deve apresentar à sociedade.

Não fosse por uma tradição, aliás, não universitária e antes da própria sociedade ─ e é preciso destacar o quão fora da vida cotidiana a Universidade está ─, as festas juninas, por exemplo, nem aconteceriam dentro da instituição. Se por um lado a festa junina ocorre dentro destes “muros” é por insistência de alunos, mas por outro lado também é preciso destacar que por muitas vezes não se tem a noção histórica destes festejos.

Festa Junina:

Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha.

Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas,afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas

A História da Cultura Tradicional se manifesta de várias maneiras, por exemplo, para os trovadores Galego-Portugueses havia um tipo de cantiga que se chamava Cantigas Marinhas ou de Barcarolas, que só se manifestou em Portugal, não tendo nenhum outro registro em nenhuma outra parte do mundo naquele período (séc. XI ou XII), mas aparece aqui no Brasil nas mãos de Dorival Caymmi. Veja, segundo Segismundo Spina o que marca este tipos de cantiga:

... daí o encanto com que muitas vezes as sugestões do mar invadem os estados de alma da donzelinha saudosa – que vai admirar o movimento calmo das ondas, conversar com elas, pedir-lhes notícias de seu namorado, ou ainda esperar por elas as barcas em que partiu o amigo em alguma expedição guerreira. O mar também estava ligado a vida sentimental da donzela, pois a partida do amigo e nem sempre era por via terrestre. ...



É preciso destacar o papel que Spina desenvolve aqui. Nos servimos deste autor para nos narrar uma classificação do que é Cantiga de Barcarolas ou Marinhas.

E vejam a canção de Dorival Caymmi:

O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito
O mar... pescador quando sai
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito

Pedro vivia da pesca
Saia no barco
Seis horas da tarde
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todas
Rosinha de Chica
A mais bonitinha
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá

Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite

Não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá

Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece
Que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Andando rondando
Dizendo baixinho

Morreu, morreu, morreu, oh...
O mar quando quebra na praia



Bom, nesse exemplo é possível perceber a raridade dos versos de Dorival, mas é possível perceber a trajetória de um tipo de canção do século XI, também. Como isso se manifesta tão apuradamente, tão perfeito, entre conceito e obra? Penso que aqui existe uma marca profunda do estudo acerca do tradicional nas manifestações artísticas contemporâneas.

O que podemos concordar é que Dorival consegue, de forma espetacular compor um obra em nosso tempo com características semelhantes a aquelas medievais, portanto é possível fazer cultura tradicional e ter sentido nisto, a qualquer tempo.

Mas o que a Universidade tem a ver com isso? Como a Universidade pode e deve atuar junto às estas comunidades que realizam, em tempo, a tradição da cultura? Cultura Tradicional é a mesma coisa de conservador? Estudar a cultura popular e tradicional é realizá-la?

Estas, penso que são as perguntas que devemos aqui começar a fazer-nos. Não tenho a pretensão de responder tais questões, ao contrário, tenho o propósito, imediato, de iniciar as perguntas.


II – Cultura Popular



Mas vamos responder ao menos uma pergunta. Cultura Tradicional é a mesma coisa que Cultura Popular? Não, mesmo que a primeira esteja intrincada na segunda. Dançamos forró, que é uma manifestação popular, porque vem da tradição de se dançar no forrobodó. Mas é necessário diferenciá-las, porque as duas realizações se dão por motivos diferentes. Eric Hobsbawn elabora assim a questão da tradição:

“Por invenção das tradições, entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas. Tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado”1,

Enquanto que Cultura Popular se realiza na racionalização do saber popular, da tradição e é a elaboração do direito do fazer cultural e educacional por uma e para uma classe social.

III – Questão de classe

Para entender esta questão da Cultura Popular é necessário antes de tudo se posicionar historicamente. Se for por uma questão de classe que se vê o objeto, portanto deve também se colocar em qual classe você pertence. Não é possível a burguesia produzir cultura popular – a não ser como reificação. A economia capitalista expropria o objeto de arte de sua condição de arte e o coloca como mercadoria, parece-nos que assim deve ser, entretanto a qualidade do objeto e não está no quanto ele custa, ao contrário, está na condição de quanto aquele serve a humanidade ou a sua comunidade. O Funk carioca que era algo da própria comunidade, expresso de maneira a escape daquela condição, torna-se mais uma mercadoria. Então o que serviria para catarse ou como expressão de um descontentamento é reificado a guisa de um objeto de exploração sexual.

Mas há aqueles que querem, no seio do próprio movimento, transformar o expediente da criação popular em mercadoria, discursando que só há esse modo de fazer circular o bem cultural. Mas esquecem-se, esses produtores, que ao defender assim ajudam somente nesta retirada de significados, símbolos do objeto. Fazer circular o bem cultural não é vendê-lo, menos ainda dispor de maneira alienada este bem.

Por isso que estabelecer claramente o propósito da Universidade e qual seu papel é tarefa imediata dos setores progressistas dessa instituição. A Universidade tem a responsabilidade não só de estudar os eventos, mas principalmente intervir socialmente. Nesta condição é que a cultura popular se coloca muito mais a serviço dos setores organizados preocupados com a transformação e ressignificação social do que aqueles setores preocupados com uma universidade otimizada, voltada ao mercado e que constrói no seu seio Empresas Jr. justificadas na idéia de que devemos formar empreendedores para a gestão do capital. A universidade tem como tarefa histórica e por fruto de seu financiamento pensar para a comunidade que dela precisa de seus conhecimentos. E não é qualquer um setor da sociedade, é para aqueles que o capital explora e desapropria não só a condição de vida, como também daqueles que foram retirados o valor de seu trabalho.

A cultura popular juntamente com a educação popular (senão for a mesma coisa) são instrumentos concretos dos trabalhadores para a obtenção dos saberes científicos e de distribuição destes a eles próprios. Os grupos tradicionais e populares devem, assim como já vem ocorrendo, se apropriarem desta produção e transformar em conhecimento popular, organizadamente.

Para nós a certeza é de que para a realização cultural popular, deve-se observar em primeiro lugar que não há venda que justifique o valor da obra e segundo, a obra é popular e, portanto deve ser desta classe social e em terceiro lugar a maneira de estabelecer novas relações é se organizando e fazendo de suas construções, construções coletivas.

HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.



Gyannini Jácomo é Acadêmico de Letras da UFG

terça-feira, 9 de junho de 2009

UNE, estranho silêncio

Texto do Jornal O Popular 28 de abril de 2009

Por Armando Acioli


Já foi o tempo em que a União Nacional dos Estudantes, através de suas aguerridas diretorias no âmbito federal e nas diversas unidades estaduais, promovia fortes movimentos em defesa das legítimas causas populares. Sua luta contra a violência e os descalabros de modo geral foi histórica. No decorrer dos governos militares pós-64, quando segmentos radicais do regime de exceção violaram direitos humanos, o estudantado saía às ruas para gritar e protestar contra os desmandos que ocorriam em todo o País.

Quando o então presidente Fernando Collor resvalou para os desvios com o esquema de corrupção montado por PC Farias, a UNE formou um verdadeiro exército e se mobilizou no País pelo impeachment de Collor. O movimento dos caras-pintadas ganhou intensa amplitude, terminando por induzir as diversas classes e instituições a apoiarem o pedido de impeachment de Collor no Congresso Nacional. Os caras-pintadas da União Nacional dos Estudantes se tornaram célebres na luta que resultou no afastamento do ex-governador de Alagoas do Palácio do Planalto.

Estranha e inexplicavelmente, a UNE, de lá para cá, mudou da água para o vinho. Não é mais a UNE de antigamente, que tinha na presidência o combativo goiano Aldo Arantes, que posteriormente exerceu o mandato de deputado federal pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B).

Pela evidência dos fatos, a União Nacional dos Estudantes dorme agora o sono do comodismo, sobretudo a partir do governo Lula. Parece que a ex-combatente classe desapareceu do mapa. Hoje, não se fala mais na UNE, comprovando que a grande maioria de seus componentes fugiu à luta e sequer defende seus colegas que batalham por justas reivindicações. Não se tem notícia de qualquer arregimentação da UNE contra a escalada da corrupção em múltiplos setores públicos e privados, abrangendo inclusive os três poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário.

No caso específico da violência, há pouco, na capital goiana, como vem acontecendo em outros aglomerados urbanos, estudantes que se insurgiram contra o reajuste abusivo das tarifas de transporte coletivo, foram espancados por integrantes da Polícia Militar. Estudantes secundaristas e universitários, ao protestarem contra o dobro do aumento imposto pelos donos das empresas particulares que exploram o transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia, também defenderam os direitos da multidão usuária dos serviços.

As agressões de policiais militares despreparados foram arbitrárias e o comandante da Polícia Militar, coronel PM Carlos Antônio Elias, não pode permitir atos que ferem a integridade física do cidadão. Eles não são bandidos. A PM não está a serviço dos empresários do transporte de massa e muito menos pode atacar estudantes que, pacificamente, defendem legítimos pleitos. O prefeito Iris Rezende, que já foi político estudantil no Liceu de Goiânia e na então Faculdade de Direito da Rua 20, tem o dever de proibir as majorações escorchantes das tarifas dos coletivos. Também determinar a colocação de maior número de ônibus nas linhas e aprimorar o sistema de locomoção dos usuários na Região Metropolitana de Goiânia. E por que não implantar o metrô de superfície? Até porque se trata do principal meio de transporte de massa e o prefeito mantém parceria com o governo Lula. O citybus é elitista e nada resolve.

Quanto aos recentes e lamentáveis episódios de espancamentos de estudantes em Goiânia, a União Nacional dos Estudantes tem pecado por omissão e ignora os distúrbios nos vários Estados.

Por que a ex-guerreira União Nacional dos Estudantes se mantém calada e não defende seus companheiros vítimas de ações policiais arbitrárias? Enquanto outras instituições chegam a lutar e fazer lobbies por privilégios descabidos e aéticos, a UNE se acovarda e nada faz pela causa dos direitos da própria classe. Mais de 650 mil bacharéis em Direito País afora estão impedidos de exercer a profissão por um exame inconstitucional, absolutista e discriminatório da OAB, enquanto a UNE a tudo assiste passivamente.

Enfim, ao se acomodar no governo da sucessão de escândalos de corrupção, da violência e da insegurança, há um estranho silêncio da UNE.




Recorte do Jornal disponível aqui.

terça-feira, 2 de junho de 2009

CICLO DE DEBATES

O Diretório Central dos Estudantes - UFG, juntamente com vários Centros Acadêmicos, realiza neste primeiro semestre de 2009, entre os dias 01 e 10 de junho, o Ciclo de debates - Estudar, Organizar, Lutar.

Este ciclo tem a natureza de abrir espaços na universidade para debater sobre temas que achamos relevantes não só para a comunidade acadêmica como para a sociedade em geral.

Estão todos convidados a debater conosco!



Acesse aqui a programação.