terça-feira, 16 de junho de 2009

Criação do curso de Educação Física à distância

Parecer do conselheiro (CONSUNI) Paulo Winícios contrário à criação do curso de Educação Física à distância:


Apresento parecer contrário à criação do curso de Educação Física à distância por entender que tal modalidade é contrária aos acúmulos do movimento docente e estudantil no que diz respeito à educação enquanto prática crítica e emancipadora. Tais posições estão claras nas resoluções dos recentes congressos da Associação Nacional dos Docentes – ANDES , da União Nacional dos Estudantes – UNE e da Frente Nacional de Luta Contra a Reforma Universitária .

Sem precisar ir tão longe encontro argumentações contrárias a tal modalidade de ensino nas palavras das atual coordenadora da TV UFG, professora Rosana Borges que em publicação da Faculdade de Educação da UFG aponta que o ensino à distância é utilizado para “ preencher a demanda da educação pós-secundária da população adulta, incluindo o ensino superior e toda a formação contínua gerada pelas necessidades do mercado de trabalho … acompanhando as mudanças ocasionadas pela reestruturação produtiva em curso no país...”. Seguindo o raciocínio da professora mestra em educação pela UFG, que deduz de tal modalidade a visão de educação enquanto “ formação de recursos humanos para o mercado “ , encontramos na página 2 do “ Projeto Político-Pedagógico do curso de licenciatura em Educação Física na modalidade de ensino à distância “, no quarto parágrafo da justificativa , uma acentuada defesa do projeto tendo em vista a expansão do ensino médio e a carência de professores para tal quadro , portanto o curso de Educação Física à distância se apresenta como uma solução rápida e barata para suprir o déficit educacional da área.

Agora peço licença aos conselheiros para perguntar, onde fica o caráter social e comunitário da educação? Em qual educação a UFG pretende investir? Onde não haja participação do estudante junto ao grupo? Onde seja solução, o menor investimento em técnicos-administrativos e docentes?

Segundo Maria Luiza Belloni, Educação à Distância se configura como “ um conjunto fragmentado de segmentos específicos de um mercado global de aprendentes-consumidores” o que é corroborado pela professora da UFG, Rosana Borges, que afirma que educação à distância é “ uma modalidade de ensino baseada no controle por regras técnicas em detrimento das normas sociais, com pouco ou nenhum conhecimento das necessidades dos estudantes, guiando-se por orientações diretivas que visam a atingir os objetivos vislumbrados pela eficiência, relegando a segundo plano a interação pessoal “Percebemos no projeto a ênfase na utilização de novas tecnologias, porém apontamos como erro equiparar a ação humana sobre a máquina com a ação recíproca entre sujeitos. Estamos falando de uma aprendizagem fundamentalmente autônoma, que depende da motivação do estudante, motivação esta, difícil de ocorrer quando o mesmo está isolado de outros estudantes, professores e da instituição de ensino pertencente.

A questão que está em jogo é: pensamos o estudante enquanto sujeito passível de produzir conhecimento ou como um mero receptor de conteúdos? Como nos disse Paulo freire “ Ninguém se conscientiza separadamente dos demais”, é claro e evidente que o convívio social é necessário à construção do conhecimento. Enfrentamos aqui o dilema entre formar ou capacitar. Do ponto de vista dos docentes , novamente segundo a professora Rosana há uma “ desqualificação do saber profissional dos educadores e a desvalorização do seu fazer, já que às exigências decorrentes das propostas de mudança, não corresponde retribuição salarial, formativa e trabalhista adequada...” As relações do mundo do trabalho na sociedade capitalista, vem demonstrando que as novas tecnologias avançam tão rapidamente quanto as desigualdades e a exploração por todo mundo.

Portanto finalizo o parecer acompanhando a posição da atual gestão do Centro Acadêmico de Educação Física, contrário à criação do “ curso de licenciatura em Educação Física na modalidade de ensino à distância “, por conceber que a ênfase nas novas tecnologias não substituem a importância do trabalho docente, nem tão pouco as relações : professor-estudante, estudante-estudante e professor-estudante-comunidade.

3 comentários:

Rosana Borges disse...

Como fui citada no parecer, gostaria de ressaltar algumas coisas: quando publiquei o artigo EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA OU A FAVOR DA DISTÂNCIA, o paradigma de ead que vigorava no Brasil era o de MASSA, cujas críticas que fiz sempre manterei. Entretanto, os cursos de EAD que estão sendo implementados pela UFG, NÃO ADOTAM O PARADIGMA DE MASSA, e sim, o paradigma DE REDE, cujo pilar é a comunicação. Portanto, considero que a leitura que foi feita do meu artigo é equivocada, haja vista que a principal crítica à ead em massa é a falta de diálogo, de interação, de comunicação, O QUE NÃO ACONTECE em cursos balizados no paradigma de REDE.

Profa. Rosana Borges

Anônimo disse...

Sugiro que releia a obra de Maria Luiza Belloni para entender melhor do que ela aborda sobre EaD.

A EaD é uma opção séria sim, o que não pode haver é a tecnofobia, menos ainda ufanismo quanto a utilização das tecnologias. Bom senso nunca foi demais.

A propósito, a EaD força o aluno a ler, a estudar mais, e não apoiar em aulas expositivas por professores que mal possuem tempo para preparar a sua aula, com a leitura verticalizada do assunto. A EaD nos moldes atuais como expresso no Decreto 5622 de 2005, rompe o paradigma da transmissão e da detenção do poder pelo professor , como tanto sugere Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia e, traz para a sala de aula uma heterarquia alunos e professores estão em condições de aprendentes, e juntos aprendendo a construir e a resignificar esse mundo tão tecnológico.

Anônimo disse...

É fato que nas mãos de instituições privadas nada preocupadas com a educação, a EaD pode ser só mais um mecanismo de venda de diplomas, como já acontece na modalidade presencial. Contudo, negar sumariamente as possibilidades que a educação em rede traz para a democratização do ensino é coisa de quem se prende e se beneficia dos modelos antigos, inclusive os de militância.